segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Escola sem mascaras

Lendo uma crônica em uma revista especializada em educação, me chamou a atenção o processo natural pela continuidade do ensino, onde o aluno passava pelos três níveis educacionais e estava pronto para o mercado e para a vida, há 60 anos atrás. Hoje os objetivos são outros, onde o mercado impõe que a diplomação é extremamente importante para atuar como mão-de-obra barata.

Aproveitando a cobrança mercadológica, as instituições de ensino encontraram uma nova forma de faturar. Os três níveis não são suficientes para esse mercado educacional onde a pós-graduação e mestrados se tornaram lucrativos.

O tema me faz lembrar um velho dirigente de uma grande universidade do Rio de Janeiro que entrevistei há alguns anos. Nos fragmentos da reportagem fica clara a diferença de pensamento no trabalho de captação de estudantes. O processo natural de continuidade do ensino até o final da década de 70 e a voracidade capitalista e “maketeira” dos anos 90 até 2007.

Hoje aposentado, ele me lembrava o romantismo das décadas de 40 a 70, onde existia uma procura natural ao nível superior por parte dos alunos de classe média carioca e do interior do estado, que com grande esforço de seus pais, alugavam um imóvel para estudar na capital. Era a liberdade tão sonhada.

Administrativamente, ele contava que o nome da instituição se construía com base em três pilares clássicos: credibilidade, tradição e corpo docente. O educando buscava a instituição pública e diante do insucesso, prestava o vestibular para uma faculdade particular obedecendo aos seguintes critérios: nome da instituição, garantia de ensino sólido (próximo ao nível das públicas) e proximidade de sua residência. Eram as faculdades de bairro e adjacências. .

Ele ainda contava que não precisava anunciar no rádio, pois o crescimento populacional dos bairros garantia a continuidade, assim a faculdade estava sempre com um numero suficiente de alunos. “Fico observando essa batalha entre as instituições onde o marketing e os preços baixos acabam definindo a escolha do cliente, não mais de classe média, basicamente formada pelas classes C e D, mais suscetíveis as grandes promessas das campanhas publicitárias. Cliente, a que ponto chegamos. Lembro que chamava o aluno pelo nome e ele ficava feliz com esse simples gesto. Era uma escola sem mascaras”, lembra saudoso.
MLarosa